sábado, 22 de dezembro de 2007

A caminhonete do gás

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Hoje cedo, logo que cheguei no meu botequim preferido pra tomar um destranca-peito, Tóia, meu parceiro de tranca, graaaande guru da redondeza, se aproximou e me colocou a par de um assalto ocorrido ontem, ali pelas oito horas da manhã, atrás do Supermercado Avanço, pertinho de onde estávamos e de onde resido, ocasião em que o motorista da caminhonete que distribui gás por estas bandas foi aliviado da sua grana por um cidadão desconhecido, armado com um baita trabuco, levando todo o seu dinheiro e fugindo a pé em seguida.
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Dei uma talagada na pinga que me foi servida, uma Capelinha daquela das brabas, que desceu goela abaixo rasgando feito uma motoniveladora, no que dei seguimento com uma raspada na garganta, uma cusparada na caixinha imunda de guimbas e fiquei matutando: como a distribuição de gás pela vítima começa pontualmente às 07:00 horas da manhã, presumo que ele ainda estava com um faturamento baixo. Talvez uns 100 reais, resultado da venda de, digamos, dois botijões de gás e alguma merreca com a qual ele começou o dia como troco. Roubo de merda!
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Considero que o assalto foi e é uma circunstância relativamente normal nos tempos atuais, seja aqui em Resende, seja em Xanxerê, e acho que não vale a pena gastar mais palavras sobre ele.
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Mas, aquelas duas figuras, o motorista e a caminhote, merecem, pois são personagens cotidianas de uma das maiores encheções de saco por que passo todo dia, de segunda a segunda, faça chuva ou faça sol, e ela tem início quando a caminhonete adentra a rua atrás da minha onde moro e o motorista bota pra berrar um auto-falante de umas dezesseis polegadas instalado sobre a cabine do veículo, começando uma zueira desgraçada com a música Pour Elise (Clica!), uma partitura maravilhosa de Beethoven, transformada num instrumento de tortura auditiva pior do que aquela que os americanos fizeram em 1990 no Panamá para prender o ditador Noriega. O merdel é ainda pior por que a música não é tocada por inteiro, ficando a sua execução restrita apenas ao primeiro movimento, sem interrupção, digo, sem pausa, se é assim que se diz.
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Digo de antemão que não tenho nem nunca alimentei contra a caminhonete e seu motorista qualquer desejo de maldade, apesar da raiva que sinto por eles pelo que me proporcionam todo santo dia, iskrusivi sábados, domingos e feriados, não obstante eu nunca ter solicitado . E se um dia um desses - Quem sabe? - um botijão de gás da carga explodir e com ele todos os seus companheiros redondinhos, mandando tudo pro inferno, motorista incluido, não será por culpa minha, pois jamaaaaaaaaaais pensaria numa coisa dessas. Só espero que seja longe de mim e de minha casa!
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Retomando o fio da meada: o tormento nas minhas orelhas só é aliviado quando o desgraçado do motorista pára para atender alguma residência e o som é desligado, voltando imediatamente a vomitar aquele som midi da pior categoria logo que se colocam em movimento outra vez, teimando em embostar a beleza musical criada por um dos mais espetaculares compositores de todos os tempos.
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Bom! Se na cidade onde você mora também existe essa perrenga, deve saber do que estou falando. No meu caso porém, a geografia conspira contra mim, pois
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- o veículo berrador inicia a sua azucrinação na rua atrás da minha casa, como já disse,
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- avança dois quarteirões,
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- vira à esquerda,
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- avança um quarteirão,
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- torna a virar à esquerda,
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- avança novamente dois quarteirões, passando agora na frente da minha casa,
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- dobra à direita, entrando na Av. Cel. Mendes, uma das principais e mais movimentadas da cidade,
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- avança outro quarteirão,
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- quebra à direita
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- e continua o seu trajeto - que já dura uma eternidade e que deve perdurar per seculae seculorum, amém! - nesse vai-e-vem punhetento, indo seguramente lá pra-puta-que-os-pariu, conforme o mapa maluco que fiz no Excel e que grudei logo aqui, óia só:
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Antes que o pestilento chegue a esse destino e até que ele dobre pela segunda vez à direita na Cel. Mendes, o som é audível da minha casa. Como desgraça pouca é bobagem, além do sem mãe e sem pai me acordar fora da hora que eu queria acordar em certos dias, aqueles quando fico até alta madrugada com a bunda colada aqui na frente do meu PC fazendo mapinhas, mesmo estando ainda deitado e de olhos fechados, meu subconsciente vai acompanhando a lenga-lenga aporrinhática dessa sinistrose musical até que depois de uma, duas horas ela desaparece.
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Se a minha situação nesses momentos me deixa por igual período com os tímpanos zunindo e meus pensamentos me deixando como doido varrido ao acompanhar a viagem da caminhonete, imagino como deve ficar o motorista, obrigado, certamente, a manter aquela geringonça ligada sobre ele o dia inteiro.
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Enfim, são coisas da vida. Ah! O meliante que praticou o assalto é um jovem conhecido por muitos do bairro, menos por mim, foi reconhecido e já deve estar vendo o sol nascer quadrado.
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Cacete! Acho que esgotei todo o meu estoque de palavrões, pragas e invectivas. Pacença!
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I bibida prus músicus!

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